terça-feira, 6 de abril de 2010

Faca de pão


Ninguém sabia como aquilo acontecera. O Barão era tão querido por todos e agora estava ali, morto no chão da cozinha, com uma faca de pão cravada na cabeça. Quem nesse mundo seria capaz de fazer mal ao simpático velhinho que trouxera o progresso para o município e sempre ajudara a todos sem nunca cobrar favores em troca?

O xerife mandou isolar o local e agora interrogava os empregados. O Barão morava sozinho. Após a morte da esposa, que não lhe deixara herdeiros, ele não se envolvera com outra mulher. Por influência de romances policiais, o xerife suspeitava do mordomo. Este, não parecia muito abalado com a morte do patrão e muito menos fazia questão de aparentar tal sentimento. Servia café ao xerife e seus homens como se servisse a convidados, sem sequer abrir a boca, a não ser que lhe fosse solicitado.

Por meio de serviçais da casa, a polícia soube que em poucas horas a propriedade estaria cheia de repórteres. Uma morte como aquela e com um defunto daquele nível chamara a atenção da mídia local e até de outras regiões. Deveriam encerrar as investigações rapidamente para evitar enxeridos. A equipe não encontrava nenhuma pista relevante há algum tempo, sabiam a causa da morte, muito estranha por sinal, “como a faca de pão entrara no crânio duro?” Também sabiam que, aparentemente, o Barão bebia um copo d’água no momento antes do crime, que estava estilhaçado no chão ao lado do corpo. Não havia sinais de luta e nem digitais.

Estava de tal modo preocupado o xerife, que nem percebeu a chegada daquela figura muita quieta. Era uma das cozinheiras da casa, aquela mesma que se assustara quando ele chegou para as investigações, e que agora se aproximara timidamente do homem, fitando-o. Ela sinalizou para que a seguisse até a cozinha. Curioso ele foi. Após alguns minutos o xerife, um tanto nervoso e muito sério, sai da cozinha e dirige-se aos seus homens, ordena que organizem a casa, limpem a cena do crime e mantenham as câmeras longe do local.

Volta para a delegacia. Por todo o caminho pensa nos últimos acontecimentos, não se lembrava de nada. Sua esposa nunca deve ter percebido também, ela tem um sono pesado. Agora as coisas se encaixavam, sabia o porquê dos cacos de vidro debaixo das botas e onde estava o talher que lhe faltará no café-da-manhã.

Estaciona a viatura, entra em seu escritório, pega o telefone e disca um número que nunca precisou.

— Alô? É do hospital militar? Doutor, sou sonâmbulo e... matei um homem.


Guilherme S. Teixeira

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