sábado, 1 de outubro de 2011

Da morte e da vida

Para o Padre Kleber, 
um grande amigo e mestre,
que já fazia uma grande 
falta ao nosso lado, 
mas agora está ao lado do Pai 
cuidando de nós. 

Não acreditei quando recebi o e-mail do Frei. Curto e grosso. Direto. Um soco na boca do estômago da felicidade.
Na mesma hora fiquei atordoado e liguei para ele. O celular estava desligado. Liguei então para quem havia me dado a notícia. "Sim, é verdade sim. Foi ontem (segunda-feira, dia 26), às 16h. As senhoras da Divino vieram nos contar, liguei pra Diocese de Santa Cruz e confirmaram. Infecção generalizada, disseram. Hehehe..."
A risadinha no final da causa mortis foi o fim daquela conversa para mim e, ainda, minha incredulidade. Liguei para a Divino, o padre Wilson não estava bem para falar, a secretária me confirmou e fui obrigado a acreditar.
Só eu havia lido o e-mail até então. Liguei para alguns: as reações do outro lado da linha eram distintas, mas ao mesmo tempo iguais. Não conseguiam (ou não queriam?) acreditar e ficavam instantaneamente "para baixo".
Apenas para um fui dar a notícia pessoalmente. Se o padre Kleber era como Jesus, então o Mello era o seu João, seu discípulo amado. Imaginava a melhor maneira de falar. Mas descobri que não há nunca uma "melhor maneira" para anunciar a morte.
Usei uma frase que o padre Geraldo mencionou uma vez: "E Deus colhe mais uma linda flor do jardim da Terra para formar um iluminado buquê no Céu", poético, né? E ameniza um pouco o assunto "da vida para a morte".
Fui para a faculdade normalmente. Mas quieto, brincava pouco. Tomei um mate, companheiro para a solidão (nesse caso, solidão interior). Já em casa, jantei e assisti a televisão. Segurei o máximo que pude, tentando manter-me forte o dia todo. Quando meu corpo parou e o cérebro relaxou: a emoção se soltou. Deitei-me para dormir e ao invés do sono vieram as lágrimas. Chorei por muito tempo, quase não dormi. Mas me senti afagado, cada um me consolava de um lado: minha mãe fisicamente, Jesus interiormente e o padre Kleber racionalmente (lembrei que ele jamais gostaria de me ver assim).

Quando acordei, ainda visualizava fiapos de um sonho. Me vi com o bigode mais cheio, mais velho. Minha mãe bem velhinha, mas ainda lúcida. Outros parentes. Um guri (a minha cara de piá) sentado no meu colo. E vindo, bem devagar, com um baita barrigão, aquela guria com quem sempre sonhei. Estávamos ao redor de uma imensa mesa, que ficava ao lado de uma cozinha toda colorida, e comemorávamos a proximidade do nascimento das trigêmeas.