quarta-feira, 31 de março de 2010

Último som do violino


Após calçar aquelas botas tantas vezes reformadas, levantou-se do velho banquinho ao lado da lareira morta, pegou o capote surrado que estava no cabide, logo abaixo do mosquete que era de seu pai, e abraçado ao instrumento, saiu. Trancou a choupana – único sinal de civilização em meio aquela mata – e jogou a chave longe. Nunca mais voltaria ao lugar onde nascera e crescera.
Caía uma chuva fina, quase não molhando nada, a noite era um breu, mas crescera em meio aquelas árvores e sabia o caminho. O cavalo já estava encilhado e relinchava, chamando pelo dono. “Arrê, crioulo fresco! Não gosta de chuva?”. O animal apenas baixou a cabeça. Largou o instrumento no chão e, sem tirar os olhos dele, pôs o chapéu de barbicacho e vestiu o capote. Abraçou-se novamente ao seu tesouro mais precioso, montou e, a trote largo, sumiu na escuridão.
Já galopava há quase duas horas, a chuva parara, o companheiro de quatro patas conhecia bem aquela região. Amarrou as rédeas na cela e puxou o instrumento de debaixo do capote. O cavalo agora ia num trote lento, gostoso, o que faltava ali era uma trilha sonora para aquela noite fria. Foi justamente isso que ele prontificou-se em arranjar. Começou a tocar, estava meio desafinado, mas até a ocasião precisa estaria perfeito. Aprendera com o pai que era caçador, músico nas horas vagas. A melodia, de Vicente Celestino, expressava exatamente o contrário daquela noite sem estrelas.
Enquanto tocava, lembrava-se do pai, da choupana, dos animais e da vez que fora a cidade, claro. A cidade não lhe saia da cabeça. Três dias de viagem a cavalo, mas valeram a pena. O pai não queria levá-lo, mas ele insistira e acabara convencendo-o. Era maravilhosa, algo que nunca vira antes, cheia de ruas e casas e pessoas. Uma pessoa em especial. Fora amor à primeira vista: linda, cabelos loiros, olhos verdes e vestido azul. Saía da missa de domingo e no momento em que a viu os sinos tocaram em seu coração.
O pai percebeu. “Nem tente. Tu és bicho do mato, guri; ela, dondoca da cidade”.
Instalaram-se numa pousada antiga. A dona era simpática, mas tinha um jeito de chinoca dada. O pai avisara que estaria no bolicho e voltaria tarde. Não conhecia a cidade e no outro dia, antes do raiar do Sol iriam embora. Decidiu pular a janela e passear um pouco. Caminhava e deslumbrava-se com tudo que via: sobrados requintados, o banco, a delegacia, dois ou três automóveis que já chegaram àquela cidade, que não era muito grande, mas para ele era enorme.
Chegando-se a janela de umas das casas qual não fora sua surpresa, justamente a casa da moça. Sentada no chão da sala ela brincava com uma boneca enquanto escutava música. “Sabe, Maria, adoro violino! O som é bom” dizia à amiga de pano. Um homem entrou. Quando ela o viu, baixou a cabeça e se encolheu onde estava. O homem aproximou-se dela, acariciando-lhe os cabelos. Levantou-a e começou a subir seu vestido. Ela estava quieta, não relutava, mas em seu rosto uma expressão de medo, dor e asco delatava que não era a primeira vez que aquilo acontecia. Não conseguiu ficar ali olhando.
Voltou para a pousada, entrou pela janela, deitou-se na cama e chorou. Chorou a noite inteira. De manhã cedinho ele e o pai partiram. Nos anos que se passaram dedicou-se inteiramente ao instrumento. Logo o pai morreu, dos animais só restou o fiel amigo equino. Tempos depois soubera por um viajante, que passava meio perdido por ali, que uma senhora loira e de olhos verdes estava muito doente, à beira da morte e ele, o viajante, estava indo avisar os familiares do outro lado da mata.
Agora, montado em seu cavalo e afinando o instrumento, ele dirigia-se a cidade. Tocaria violino no enterro de sua amada.

Guilherme S. Teixeira

quarta-feira, 24 de março de 2010

Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.*

(para a Thalita)


— Puta merda! Por que me persegues? Não vais falar? Fala, animal! Anda, me responde. Ah, dinossauro não fala, né? Pelo menos faça algo de útil, saia da frente e deixe-me passar.

Levanta-se, vai até a janela.

— Essa camisa coça. Por que será que não te dão uma também? Pelo menos não ficaria me encarando e se entreteria em se coçar. Dinossauro maldito, só sabe ficar aí, parado, me olhando e ocupando lugar. Esse quarto já é minúsculo e ainda me tomas metade do espaço.

Senta-se na cadeira, de raras visitas, e olha para a porta.

— Vou chamá-los! Hoje eles terão que fazer algo. O diretor não deve saber. Não deve ser permitido animais aqui. Ainda mais dinossauros! Esses imprestáveis que ainda não te tiraram daqui perderão o emprego quando o diretor souber. Está quase na hora deles chegarem.

Alguns minutos depois, dois homens vestidos de branco entram. Ele levanta-se.

— Ah! Até que enfim. Por favor, levem esse dinossauro daqui! Vou contar ao diretor que vocês o deixaram aqui para me atormentar!

Um dos homens de branco vai até ele e aplica-lhe uma injeção. Com a ajuda do outro, deitam-no, desacordado, na cama.

— Com essa ele vai dormir e parar de ver dinossauros por um tempo. E é melhor apertarmos mais a camisa-de-força, estava quase frouxa.


Guilherme S. Teixeira


* Augusto Monterroso (Considerado o menos miniconto do mundo).

terça-feira, 23 de março de 2010

Mãe, tô no jornal!


Correio do PovoDando abertura a semana de 70 anos da FALE, Jonas, Lucas e eu interpretamos textos de três grandes escritores, caracterizados como tais. Respectivamente: Miguel de Cervantes, Willian Shakespeare e Fernando Pessoa. Foi uma experiência divertidissíma!

Parabéns:
18.03 - Afi Paola e Ká
19.03 - Karolzinha (DB)

E sejam bem-vindos, NOVO PRÉ!

terça-feira, 16 de março de 2010

Poema em linha reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Parabéns:
05.03 - Ágatha
07.03 - Carol Loira
08.03 - Dani Depp
09.03 - Clédia
13.03 - Dinda Du
14.03 - Evelyn (SNST)


sexta-feira, 12 de março de 2010

Corações partidos não possuem cor


Gostaria de te falar:

— Só quero que saibas que me arrependi da situação em que nos encontrávamos, mas jamais me arrependerei de cada momento ao teu lado. Tu conseguiste... Com uma simples frase tu conseguiste transformar o TUDO que eras para mim, em quase nada...
Se tu tivesse dado com os dois pés na minha cara não teria doido tanto como doeram aquelas palavras. Pegaste meu coração – que já era teu – e detonaste com ele. Estraçalhou-o pedaço por pedaço, artéria por artéria, até pulverizá-lo por completo.
Ainda acho que não merecia isso, mas alguns afirmam que foi bom para eu refletir e deixar de ser bobo e fazer tuas vontades. Eles não deixam de estar certos.
Mas estou inquieto, pois ainda espero uma conversa esclarecedora. As coisas não terminam assim – e com certeza havíamos começado algo!
Terás de me reconquistar, não digo “romanticamente”, mas nossa amizade foi abalada e só tu podes resolver e refirmá-la.
Por mais que eu seja orgulhoso e cabeça-dura, sabes que sou fácil para desculpar e basta seres sincera.
Mas duas coisas são certas: a amizade pode (e creio que vai) voltar a se fortificar, mas o futuro com cozinha colorida perdeu a cor e dessa vez é para sempre.


sábado, 6 de março de 2010

Fim do mundo?


As baratas já sabiam...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Adeus, férias! Olá, ano...

É, as férias terminaram de vez... Ontem já foi o primeiro dia de aula de 2010.
Saudades das férias... Não ficar fazendo nada, ir pra praça, noites na afi Jú ou no Mello-cat, Carnaval em Quintão com as gurias e muito kapeta, ler da meia-noite até 8h da manhã...
Agora tudo volta!
Aula todas as noites de segunda a sexta e sábados pela manhã. CLJ de tarde – dia 6 vamos ver os tios! e o tio Sílvio tá lembrando de bastante coisas e tá mais ativo – e domingos pra descansar (ou tentar)...
Quero tantas coisas para esse ano, que nem sei por onde começar... Algumas até começaram (ou pensei que tivessem), mas já terminaram. Quero estudar mais, quero trabalhar, quero organizar as pastas e arquivos do CLJ, quero recuperar a história da paróquia, quero ver a Goretti indo pra frente, quero a felicidade das pessoas a minha volta, quero ler mais... e mais... e mais... e mais... e muito mais!
Às vezes me sinto sem tempo e isso é tão triste... É um absurdo o homem dizer que está "sem tempo" se ainda está vivo... Espero usar meu tempo da melhor maneira possível.

Um salve paras os aniversariantes de Janeiro e Fevereiro:
21/01 – Kassie
27/01 – Dai e tia Vera Lúcia
28/01 – Afi Chaves
29/01 – Lúcio
02/02 – Quito
07/02 – Salsicha
10/02 – Tia Wilma
11/02 – Dessinha
16/02 – Mamãe
17/02 – Camilinha
18/02 – Dani (DB)
20/02 – Susú
E também pra prima Rê e a mana Dadá que é hoje! xD