quarta-feira, 24 de março de 2010

Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.*

(para a Thalita)


— Puta merda! Por que me persegues? Não vais falar? Fala, animal! Anda, me responde. Ah, dinossauro não fala, né? Pelo menos faça algo de útil, saia da frente e deixe-me passar.

Levanta-se, vai até a janela.

— Essa camisa coça. Por que será que não te dão uma também? Pelo menos não ficaria me encarando e se entreteria em se coçar. Dinossauro maldito, só sabe ficar aí, parado, me olhando e ocupando lugar. Esse quarto já é minúsculo e ainda me tomas metade do espaço.

Senta-se na cadeira, de raras visitas, e olha para a porta.

— Vou chamá-los! Hoje eles terão que fazer algo. O diretor não deve saber. Não deve ser permitido animais aqui. Ainda mais dinossauros! Esses imprestáveis que ainda não te tiraram daqui perderão o emprego quando o diretor souber. Está quase na hora deles chegarem.

Alguns minutos depois, dois homens vestidos de branco entram. Ele levanta-se.

— Ah! Até que enfim. Por favor, levem esse dinossauro daqui! Vou contar ao diretor que vocês o deixaram aqui para me atormentar!

Um dos homens de branco vai até ele e aplica-lhe uma injeção. Com a ajuda do outro, deitam-no, desacordado, na cama.

— Com essa ele vai dormir e parar de ver dinossauros por um tempo. E é melhor apertarmos mais a camisa-de-força, estava quase frouxa.


Guilherme S. Teixeira


* Augusto Monterroso (Considerado o menos miniconto do mundo).

4 comentários:

  1. tinha que ver minha cara de alegre lendo esse texto de novo! 8)
    é bom saber que marquei de alguma forma ^^
    ;*

    ResponderExcluir
  2. Uau! Que ótimo fragmento. (: Fiquei bastante surpresa com o final. 8D

    :*

    ResponderExcluir