segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pequena ficção da vida real... [6]


Se ele soubesse que, após o parque, seria dessa forma, acreditava que antes não tivesse se aproximado. Por que não lhe dava valor? Para ela, ele era um brinquedo, brincando com seus sentimentos. Ela sabia que eram puros, mas mesmo assim o destratava.
Mas ele sempre voltava a procurar-lhe, e na maioria das vezes rogava para que ela se afasta-se, para matá-la aos poucos dentro de si. Pensava que não suportaria um golpe súbito. Pedia para ser ignorado, que as carícias feitas não fossem retribuídas para depois ela deitar-se com outros.
Queria ir embora, queria ser deixado ir embora. Que ela contribuisse com a sua felicidade, assim como ele sempre fez tudo por ela e ainda fazia.
Mas queria que ela tivesse a certeza de que não merecia ter ganhado o cordão das mãos da mãe dele, na atual situação. Estava enganando a velha senhora, transformando tudo em ilusão aos olhos de todos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pequena ficção da vida real... [5]


Engraçado essas coisas, conhecemos pessoas apenas de vista, na rua, no colégio, na porta do prédio. Nunca imaginamos que isso venha a ser, um dia, amizade. E das fortes.
Eu o via no colégio, nunca falei com ele. Nem fazia questão. Anos depois, ele apareceu na paróquia e começou a fazer parte do grupo. Ai, como era chato! Já chegou zoando comigo, cheio de liberdades e me tirando do sério. Mas aos poucos foi brotando uma amizade, conversas sérias, fé e conversão.
Passamos por várias situações juntos: brigas, piadas, sermões, irmandade. Claro, algumas brincadeiras ainda são pregadas, agora de ambos os lados. Temos as mesmas iniciais no nome, mas sempre nos chamam pelo sobrenome (os quais as primeiras letras formam o apelido de um professora que tive e que dá um bom caldo).
Andando de carro com ele fico preocupado, mas ao mesmo tempo tranquilo por estar ao seu lado. Me agonia quando ele sai cantando pneus e não sei se vai para casa.
À noite, através da janela, ouço loucos que fazem uma curva perigosa à milhão. Antigamente eu sempre praguejava. "Morre, animal!", mas isso era antes. Hoje, quando um carro passa acelerado por aqui, apenas rezo para que não seja ele.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fora daqui


Sei qual é o meu lugar, já estou inserido nele.
Mas mesmo assim, muitas vezes, ainda me sinto deslocado.
Até há explicações, mas nenhuma é "entendível"...
Será que me querem fora daqui?