sábado, 25 de setembro de 2010

Pequena ficção da vida real... [3]


Quando crianças, eles eram um horror. Ela sempre o chamando de sapo; ele, puxando seus cabelos. Era quase uma guerra diária. Foram crescendo, se distanciaram um pouco. Quando se viam, era aquele sorrisinho seguido de um "oi" ou um aceno com a cabeça.
Ela, um ano mais velha, saiu do colégio antes. Mas estava sempre por perto. No último ano de colégio para ele, se viam pouco, mas o que tinham um pelo outro poderia ser agora mais chamado de amizade do que antes.
Viam-se raramente, mas o sorrisinho havia sido trocado por um escancarar de dentes, braços abertos e um abraço apertado.

Era noite. Ele voltava de uma festa cedo. Passando pelo ponto de ônibus: a viu. Começaram um diálogo. Ela disse que à uma semana esperava notícias do namorado que estava querendo um tempo, fugindo de falar cara a cara com ela. Estava decidida: pegaria o ônibus e ficaria plantada na frente da casa até receber uma resposta definitiva. "Sim" ou "não"...
Ele tentou argumentar, pediu para que ela fosse no outro dia, quando teria sol. Onde o namorado morava, não era um lugar tão seguro para uma moça sozinha, à noite, na rua. Ela disse que sozinha nunca estava, e isso confortou um pouco ele. Pois também pensava assim: Deus sempre está conosco.
Ele não sabia exatamente o que fazer, parecia os tempos de colégio: ela continuava teimosa, cabeça-dura. Ele simplesmente tirou o crucifixo que, há quatro anos, trazia pendurado no pescoço e batendo no peito. "Nunca tirei ele sem ser pra tomar banho. Que ele te proteja assim como sempre me protegeu. Quando eu te encontrar denovo, eu pego de volta. Te cuida".
E assim, deixou que ela entrasse no ônibus e fosse...
Sentia um aperto no peito, mas tinha esperança de revê-la novamente, com a cruz dele, e sem a dela.

Guilherme S. Teixeira

Um comentário: